- Resumo
dos discursos nos dias 19 e 20 de setembro de 1967
Aquela era a centésima, vigésima primeira sessão
da Assembléia Legislativa do Estado, realizada em 19 de setembro
de 1967. Presidida pelo deputado Carlos Santos, era secretariada
pelos deputados Pedro Nunes e Alcides Costa.
Carlos Santos: - "A Assembléia Legislativa do Rio Grande
do Sul, no esteirão rutilante das suas tradições
mais caras, encerra hoje, com o alto cunho evocativo desta sessão
especial, um capítulo dos mais
belos e movimentados da gloriosa história política
da altiva, generosa, lendária e farrapa terra. Pela última
vez, senhores deputados, ao longo de quase dois séculos,
abarrotados de requintado civismo, nativo pundonor e arraigado culto
das mais castiças virtudes, que recamar-se possam no espírito
e na consciência da gente varonil e nobre do Pampa Riograndense;
pela última vez reune-se aqui o Poder Legislativo do Estado,
por força da transferência de suas instalações,
amanhã, para o fronteiro e novo e alteroso Palácio
Legislativo. O Velho Casarão da Rua Duque, que a compostura
moral e cívica, os florões da cultura política,
a austeridade obstinada, a indormida vocação democrática,
de várias gerações de homens públicos,
mas sobretudo, senhores deputados, o acendrado amor devotado ao
rincão materno C transformaram em símbolo de devotamento
e sacrifício pela causa do povo, com a mesma mescla de convicções
doutrinárias a que até hoje, e, invariavelmente, o
empenho de nobres atitudes e normas retilíneas de conduta
dos nobres deputados deram rígidas feições
de sacerdócio, o Velho Casarão C dizíamos C
para todo o sempre, vencido pela ação destruidora
do tempo, tem a sua missão histórica encerrada, ou
melhor, transferida para outra ambiência mais compatível
com a augusta majestade do Poder Legislativo. Da seqüência
ilustre de varões sem jaça que em toda luminosa história
desta Casa lhe dirigiram os destinos e enfloraram a presidência
com altivez, sabedoria, clarividência política, muitos
já mergulharam no sono sem sonho da morte, mas vivem soberbamente
no panteão cívico da reverência pública,
enobrecidos pela sombra da própria individualidade projetada
no futuro, sublimando, assim, a lapidar conceituação
que da imortalidade Max Nordon nos oferece. Outros porém,
para ufania nossa, sobrevivem aureolados pelo respeito e pela admiração
do Rio Grande e dignificados pelo exemplo que deram, pela contribuição
decisiva que ofereceram em prol da nossa vivência democrática
cujo substrato viceja na magnitude do Paramento, mesmo quando aqueles
que o integram, curvados ao peso das conjunturas humanas, possam,
eventualmente, a expressão sublime lhe macular. No Rio Grande
do Sul, porém, uns e outros, à luz dos brios e da
dignidade da dignidade cívica que constitui, mercê
de
Deus, o apanágio da nossa gente, glorificam a galeria insigne
dos valores imarcescíveis da cultura e do espírito
que sobremodo honram esta Casa e a consagram como florão
de luz, iluminando perenemente em festa as páginas da história
política do Rio Grande do Sul. Para falar em nome deles,
na hora derradeira deste plenário augusto, dentro da sua
destinação histórica, de centro convergente
da vida política riograndense esta presidência, por
certo, enfrentaria dificuldade tremenda, tais e tantos e tão
iguais são os méritos, se não se socorresse,
como o fez, da hierarquia do tempo para outorgar a emotiva tarefa
ao ex-presidente mais antigo. Nestas condições, senhores
deputados, na rigorosa ordem cronológica dos sobreviventes,
em que também figuram, como patrimônio moral e cívico
desta Casa, os nomes ilustres de Francisco Duval Gomes de Freitas,
João Caruoso Scuderi, Alcides Flores Soares Junior, Manoel
Braga Gastal, Alberto Hofmann, Adalmiro Bandeira Moura, Domingos
Francisco Spolidoro, Pedro Afonso Anshau, Gustavo Langsh, Hélio
Carlomango, Cândido Norberto dos Santos, Francisco Solano
Borges, José Sperb Sanseverino e Alfredo Augusto Barros Hofmeister
C estão em prioridade os venerandos e ilustres riograndenses
Luiz Guerra Blesman, Viriato Pereira Dutra e Hildebrando Westfallen
que, por
motivos em verdade imperiosos, declinaram do encargo que ficou assim
deferido ao iminente homem público José Diogo Brochado
da Rocha, que, na sessão legislativa de 1949, honrou sobremodo
a presidência desta Casa com os fulgores da sua inteligência
de escol, a clarividência do seu espírito público,
e a quem neste instante tenho o prazer e a honra de conceder a palavra".
José Diogo Brochado da Rocha
Ex-Presidente
"Pela última vez, acaba de declarar vossa excelência,
reune-se neste velho casarão a Assembléia Legislativa
do Rio Grande do Sul. E é para assinalar este acontecimento
que, neste plenário se reunem, agora, os antigos e os velhos
deputados. Pela vez derradeira representantes do povo riograndense
terão assento nesta bancada, onde todos, reunidos, espelham,
refletem, representam um Rio Grande em todas as suas variações
de atividades econômicas, de cores, de sentimentos religiosos,
de idéias e de ideais. Nunca mais entre estas paredes que
já ouviram e já recolheram a sonoridade e a vibração
da palavra dos dois gigantes da oratória parlamentar riograndense,
Gaspar da Silveira Martins e João Neves da Fontoura, nunca
mais estas paredes ouvirão a voz dos deputados riograndenses
transmitindo os anseios, as esperanças, as angústias,
os sofrimentos e também as alegrias dos riograndenses, como
legítimos e autênticos interpretes que são da
alma popular."
"Aqui, sob este teto, discutiram e votaram-se todas as constituições
que regeram a vida do Rio Grande, todas e cada uma refletiram sempre
os anseios, na época, da opinião do povo riograndense.
A de 14 de Julho, estatuída sob a filosofia positiva de Júlio
de Castilhos traduzia o domínio do Partido Republicano sob
a chefia do Patriarca. A de 35, plasmada dentro de ideais e convicções
de entre guerra e já às vésperas de um novo
conflito tinha seus laivos de totalitarismo que tentava dominar
o mundo sufocando a democracia. A competição entre
os dois sistemas de vida, para decidir-se custou uma ecatombe, que
tragou milhares de vidas e destruiu patrimônio material incalculável,
mercê de Deus foi vencida pelos democratas. Tal era o temor
da volta à ditadura que a nova constituição
chegou a ter traços de revanchismo."
"Duas constituições não passaram por este
plenário: uma, a romântica da República de Piratiní,
levada lá para a Assembléia em Alegrete. A outra,
a polaquinha, outorgada, que não saiu desta Casa, mas do
Palácio Piratini."
Suely de Oliveira
Vice-líder do MDB
"A História da Civilização outra coisa
não é senão o relato da luta milenária
continua e sem tréguas pela conquista e pelo resguardo deste
alienável direito do homem, cerceado, ameaçada continuamente
pelo despotismo, pela ambição, quando não C
como vimos nos dias que antecederam a Segunda Guerra Mundial C pela
megalomania de ditadores e usurpadores do Poder. Da luta árdua
pela liberdade, para deter os abusos do absolutismo resultou no
aparecimento dos primitivos colégios legislativos; os conselhos
dos anciões, nos estados-cidades da Grécia antiga,
o senado do povo romano, o parlamento da Inglaterra medieval, constituídos
unicamente por membros da classe dominante, aristocratas, patrícios
ou lordes. Com o desenvolvimento da classe média, notadamente
a partir do século 18, privilégios de que até
então só desfrutavam os nobres vulgarizaram-se. Os
parlamentos assim chamadas genericamente às casas legislativas,
foram também se popularizando, passando os povos a escolher
livremente os seus representantes de seu próprio meio."
"Os fatos, sendo relativamente recentes, não necessitam
de ser lembrados. Porém, dois acontecimento desta fase devem
ser mencionados. Um pela sua alta significação democrática
e o outro pelo aspecto negativo de agressividade aos direitos fundamentais
do homem. Refiro-me, nobres pares, à defesa da legalidade
em 1961, e a cassação, na legislatura passada, dos
mandatos de deputados. O primeiro, com a participação
ativa de todos os membros desta casa, culminou com a posse do presidente
João Goulart. O segundo, com o afastamento drástico
de vários deputados, membros ilustres e dignos deste poder.
Não se lhes foi dada sequer a oportunidade de defesa, consagrada
pelos povos civilizados o direito de defesa é assegurado
inclusive a qualquer criminoso vulgar. Em Nuremberg e Israel, o
que no Brasil se negou aos deputados, legítimos representantes
do povo, foi concedido a criminosos de guerra, responsáveis
pela tortura e pela morte de milhões de seres humanos, homens,
velhos e crianças. A verdadeira Justiça não
se faz pela metade. A ela tem direito tanto a vítima como
o ofensor."
Otávio Germano
Vice-líder da ARENA
"A história da Assembléia Legislativa é
a própria história do Rio Grande do Sul. Foi aqui
mesmo, neste mesmo prédio, onde funcionava a Casa do Trem,
departamento da Fazenda Pública, dos tempos coloniais, que
se instalou, solenemente, em 20 de abril de 1835, a primeira Assembléia
Provincial, em obediência à lei que tirava dos Conselhos
Municipais a direção política da Província.
Nascia então com a Assembléia, a vida partidária
da Província, que se dividia, como em todo o País,
em conservadores e liberais. Desta primeira Assembléia faziam
parte, como vultos eminentes, Bento Gonçalves da Silva, Sebastião
Barreto Pereira Pinto, Antonio Rodrigues Braga, Marciano Pereira
Ribeiro, Magalhães Calveti, Joaquim Vieira da Cunha e tantos
outros.
A primeira Assembléia, através da participação
de Bento Gonçalves e seus companheiros, ocupou papel saliente
e decisivo nos acontecimentos de 20 de setembro de 1835. Pode-se
dizer que a Epopéia Farroupilha nasceu dentro da Assembléia.
Evocar-se, ainda que de passagem, a Guerra dos Farrapos é
rememorar a página mais gloriosa da história riograndense.
E a história dos Farrapos é tão cheia de ricos
episódios, tão repleta de fatos memoráveis,
tão absorvente de vultos exponenciais, que quando se fala
da vida política do Rio Grande dos idos de 1835 não
se pode esquecê-la porque os heróis não desaparecem
da lembrança de seu povo, nem morrem na voragem inexorável
do tempo porque deixam gravados perenemente os ideais de igualdade,
de justiça, de liberdade".
Carlos Santos
Presidente
Com a presença de cinqüenta e cinco senhores deputados
declarou solenemente instalada esta primeira sessão da Assembléia
Legislativa do Rio Grande do Sul no Palácio Farroupilha e
convido a assistência para que, de pé, ouçamos
o Hino Nacional entoado pelo coro orfeônico do Instituto de
Educação General Flores da Cunha sob a regência
da professora Dinah Nery Pereira.
- Inauguração
Identificados pelos padrões mais altos do cívico pundonor
que refulge em cada página da história política
do Rio Grande do Sul, retomamos hoje, aqui, sob a cúpula
do Palácio Farroupilha, legenda evocativa que o nosso orgulho
nativo deu à nova Casa do Povo, retomamos aqui o curso das
nossas atividades parlamentares dentro da plenitude da sistemática
democrática. Se radicais foram as alterações
agora trazidas às instalações do Poder Legislativo
do Estado, na ordenação arrojada das linhas arquitetônicas
deste edifício, inalteráveis, entretanto, hão
de aqui permanecer todo aquele acervo opulento de atributos cívicos,
toda aquela gama de reservas morais, toda aquela mescla de normas
rígidas e costumes austeros que ao longo do tempo urdiram
na consciência do povo riograndense, respeito e crença
nas instituições democráticas de que o Parlamento,
sem sombra de dúvidas, é seiva, alento, solução
nutritiva, solidário aval de vera sobrevivência. O
empenho obstinado da Mesa desta Assembléia em contornar os
mais sérios obstáculos para assegurar ao Poder Legislativo
do Estado, mercê de sua instalação neste prédio
alteroso condições de funcionamento que o histórico
e vetusto casarão da Rua Duque já não mais
lograva oferecer, outra coisa não retrata senão a
fé inquebrantável, a convicção irremovível,
a fé e a confiança na perenidade gloriosa da Democracia,
força soberba dos que não têm força,
por isto que se constitui em expressão suprema da soberania
do povo. Foi a réplica altanada que encontramos para o pessimismo
suicida das cassandras contemporâneas que, na sua funéria
previsão do finamento da democracia, como se tal fosse admissível,
diantes das atribuições fecundas e motoras que ela,
a democracia, tem na vida espiritual da humanidade e na predestinação
libertária dos povos de todo o mundo. O Sol, no idílio
eterno dos astros, perde para nós o esplendor e envolve a
Terra na penumbra durante o beijo eclíptico da Lua, mas nem
por isto a realeza do astro-rei se estiola. Ele é sempre
o Sol, harpa de luz que a nuvem tange, no hino admirável
do poeta, leão soberbo, sacudindo pelo espaço a juba
incendiada acendendo uma brasa em cada grão de areia e labaredas
de ouro em cada enorme vaga, como cantou Pinto da Rocha. Assim me
referi alhures ao Direito e o faço agora à Democracia,
quando por ela passam a sombra negra da tirania, do despotismo e
da opressão, bem pode parecer que interceptaram a sua luz.
É o mesmo fenômeno dos eclipses. Mas, no entanto, talqualmente
o Sol a Democracia permanece eterna e rutilante, esmaltando o infinito
da vida humana. Muito mais do que uma simples forma de regime, do
que um sistema de governo, ou de uma doutrina política, a
democracia é uma filosofia de vida. Feita a mensagem iluminada
de um mundo dentro do qual, na previsão comovedora de Kennedy,
o forte seja justo, o fraco se sinta seguro e a paz seja preservada
para sempre, de um mundo enobrecido pelos fulgores divinatórios
do amor, com requintes de solidarismo fraterno, para que os que
vivem em choças e aldeias, em metade do globo, lutando por
romper as cadeias da miséria, encontrem afinal, e a cada
instante, o melhor esforço e a compreensão humana
bastante no sentido de ajudá-los a se ajudarem, não
por interesse eleitoreiro dos políticos, mas por sublimada
conceituação de justiça social, mesmo porque,
advertia o grande líder democrático, se a sociedade
livre não puder ajudar os muitos que são pobres não
poderá jamais salvar os poucos que são ricos. Esta
é a função maravilhosamente histórica
da democracia, respaldada na proeminência política
do Parlamento. Por isto mesmo, alento não tem o alarido daqueles
que sussurram frustrações diante do que chamam "processo
de esvaziamento do Poder Legislativo", quando se sabe que não
é propriamente da menor ou maior intensidade do seu mecanismo
legislatório, nem da rotineiro feitura mais ou menos ampla
das leis de meios, ou normas outras de similar teor, que emana a
expressão maior do Parlamento como substrato da democracia,
mas na existência em si mesma do Poder como símbolo
augusto da soberania do povo. Como instituição política,
o Parlamento se ocar não pode tão só por força
de maior ou menor ordenação de suas tarefas legislativas
em harmonia independente com os demais poderes do Estado. A nós,
homens públicos, a nós, que integramos, ungidos de
preferência e confiança do povo, é que cabe,
pela compostura cívica e moral, pelo espírito público
pela fidelidade às instituições, pela austeridade
dos costumes, pelo devotamento ao Rio Grande, o excelso encargo
de prestigiar o Parlamento no apostolar exercício do mandato
honroso que o povo soberbamente nos outorgou.
Pedro Simon
Líder do MDB
Na evocação da sublimidade da Epopéia Farroupilha,
cujo lema de liberdade, igualdade e humanidade impregnou a alma
gaúcha na perseguição da justiça, reunem-se
aurtoridade e povo para registrar fato marcante na vida riograndense.
Ontem o entrechoque bárbaro do Pampa timbrando o brado libertário
de uma época. Hoje, decantados os fatos, vê-se o registro
da história o culto à grande data e a necessidade
da persistência na luta por seus ideais de liberdade. Porém,
a dispensa à luta fratricida, dando-se lugar ao diálogo,
ao debate das idéias e ao fundamento doutrinário.
Dialogo que realça, que toma relevo no Parlamento, síntese
expressiva da vontade popular. Ontem a Praça da Igreja e
o velho casarão da Rua Duque, em linhas modestas e sóbrias
testemunhando os lances de glória que o tempo recolheu aos
seus arquivos históricos. Hoje a velha Praça da Igreja,
ou da Matriz, que a alma do povo transformará no futuro,
é certo, na Praça dos Três Poderes, eis que
abrange a divisão harmônica do sistema que nos rege.
O nome que a alma popular vai adotar há de por certo decorrer
do motivo que ora toma realce. É que hoje, nesta praça,
em linhas arquitetônicas austeras, levanta-se na data dos
Farrapos, um monumento à liberdade, materializando no magistral
Palácio Farroupilha, a fé cívica do povo riograndense
e de seus legisladores no futuro da Democracia, no futuro da Liberdade,
razão de ser de toda a nossa atividade, a cuja causa estamos
dispostos a tudo sacrificar, mesmo sendo necessário, como
no passado fizeram tantos heróis gaúchos, dar em holocausto
nossas próprias vidas.
Nós da oposição que perseguimos objetivos certos
perante a História assumimos a responsabilidade na convicção
plena de que estamos dando, com pesado ônus, contribuição
valiosa para a Democracia brasileira, na trincheira de luta que
é reservada como meio hábil e valido a alcançamos
aos riograndenses e brasileiros um estágio de vida mais humano
e mais justo. Esta tem sido, afinal, as nossa luta cujo duelo, o
das idéias, excelência do regime democrático,
tem deixado na esteira do tempo companheiros valorosos que se exauriram
no combate. Uns pereceram, outros injustamente afastados por decorrência
de uma nova ordem, todos, é certo, deram sua valiosa contribuição
ao Rio Grande e ao Brasil, tornando-se por isto credores da estima,
da consideração de seus co-cidadãos. 2496
Ary Delgado
Líder da ARENA
"Precisamente, Senhor Presidente, em 20 de abril de 1835, criada
pelo Ato Adicional de 12 de agosto de 1834, instalava-se no velho
Solar da Rua da Igreja, que até ontem nos serviu de abrigo
a primeira Assembléia Provincial do Rio Grande, unificando
a orientação política da Província,
até então dirigida pelos Conselhos Municipais. Interessante
se dúvidas, senhores e senhoras, nesta hora de evocação
de nosso passado parlamentar. relembrar, num fugitivo relance, o
quadro político do País naqueles começos de
1835. Quando o Rio Grande amanhecia politicamente com a instalação
solene da sua primeira Assembléia. Há quatro anos
os liberais brasileiros, mais exatamente a 7 de abril de 1831, num
movimento enérgico de opinião havia arrebatado o cetro
do primeiro imperador, forçando Dom Pedro I a abdicar à
coroa. Esse acontecimento, consagrado na história como verdadeiro
marco da independência política do Brasil que até
então tateava nas trevas em busca de seus rumos definitivos
definiu, desde logo, no panorama da nossa incipiente vida cívica
três correntes de idéias; três tendências
políticas, que daí por diante haveriam de se degladiar:
os caramurus, ou retrógrados, que desejavam à volta
de Pedro I; os liberais moderados, que aspiravam a monarquia constitucional
parlamentarista, com um imperador brasileiro e, finalmente, a corrente
dos liberais exaltados que almejava enquadrar, desde logo, o Brasil
no americanismo democrático republicano. Não desejavam
estes últimos que o velho sistema monárquico já
em agonia na Europa pretendesse sobreviver na terra jovem da América,
depois dos Estados Unidos já terem feito a sua independência
em forma republicana; depois de proclamados os direitos do homem
pela Revolução Francesa de 1789; depois de já
libertada e republicanizada 16 a América Espanhola. Esses
exaltados, constituídos dos patriotas mais inquietos da massa
popular, dos nativistas mais arraigados, sacudidos pelo vendaval
das modernas idéias do enciclopedismo, já no 7 de
abril eram cognominados, no Rio de Janeiro, de Farroupilhas. Triunfou,
como de resto é uma constante na evolução brasileira,
a corrente moderada, que aguardaria paciente, a maioridade de Pedro
II, para estabelecer a monarquia constitucional, que nos governou
com sabedoria até o advento da República em 89. Era
esse, em síntese, o panorama do Brasil político ao
instalar-se o nosso primeiro parlamento provincial.
"A plêiade gloriosa que preparou a Revolução
de 30 e o advento da democracia moderna, onde se destacam Getúlio
Vargas, João Neves da Fontoura, Oswaldo Aranha, Flores da
Cunha, Maurício Cardoso, Raul Pilla, Lindolfo Collor, Baptista
Luzardo e tantos outros que dentro desta Assembléia ou no
Parlamento Nacional souberam sustentar com galhardia a velha vocação
política do Rio Grande. Cito apenas, senhor presidente, aqueles
vultos por sobre os quais ampulheta do tempo já amorteceu
as paixões e já lhes abriu às portas definitivas
da História. Eles bastariam para exaltar o espírito
cívico desta Casa sempre cônscia de suas responsabilidades
perante o Rio Grande e perante o Brasil e cuja história,
como diria Alcindo Guanabara, é uma linha reta traçada
entre a Honra e a Liberdade. Vista do alto da montanha do tempo,
examinada no conjunto de uma perspectiva histórica em que
pesem os choques das divergências ocasionais que fazem parte
da dinâmica da Democracia e da dialética da História,
há nas tradições desta Casa uma linha indesviável
de coerência cívica que orgulha os padrões morais
e culturais do Rio Grande. Ela constitui um espelho que se reflete
sobre todas as luzes da nossa menoridade e de todo o sol de nossa
madureza política".
"Aqui, neste local, e nesta hora, instala-se um monumento à
Democracia".
" Nesta hora de renovação nacional, quando o
Rio Grande e o Brasil estão empenhados numa grande jornada,
a jornada do desenvolvimento, da emancipação econômica,
da regeneração dos costumes, da redenção
nacional, em suma o partido da Revolução de 31 de
março, pela minha palavra, exulta com os demais representantes
nesta Casa, com o governo, ilustre governador Peracchi de Barcellos,
e com o povo riograndense pela inauguração deste Palácio
Legislativo que constitui um marco do nosso progresso e um símbolo
do Rio Grande novo".
Creditos
Organização
e material do arquivo pessoal do advogado José Luiz Pereira
da Costa, chefe do Gabinete do Presidente Carlos Santos, da família
Santos e do advogado Renato Gonçalves.